Ikigai ou 生き甲斐 (pronunciado i-qui-gái) é uma expressão japonesa que representa o ponto no qual se sobrepõem as coisas que amamos (paixão), aquelas nas quais somos bons (vocação), aquelas que podemos ser remunerados por fazer (profissão) e aquelas com as quais, dentre as que o mundo precisa, podemos contribuir (missão).
O seu ikigai representa o encontro destes valores e identificar como se aproximar do centro de conexão deles resulta na descoberta da razão para viver ou de seu propósito. Ou, pelo menos, como acordar satisfeito com o dia a seguir.
A imagem que ilustra esse texto é a representação mais típica do ikigai que se popularizou no ocidente. Outros povos tem expressões próprias que se assemelham ao sentido do ikigai e mesmo para os que não tem, é reconhecida a importância de ter um propósito e viver mais próximo do encontro destes valores.
Embora se saiba há muito tempo que ter uma motivação para iniciar o dia é essencial para um maior grau de satisfação com a vida, atualmente a ciência corrobora que achar e viver mais próximos destes valores não apenas está associado com bem-estar e felicidade, como parece ter um efeito protetor contra sintomas de doenças.
Estudos científicos vêm demonstrando que pessoas mais satisfeitas tendem a manter hábitos de vida mais saudáveis, como se alimentar melhor (ingerindo mais vegetais, frutas e grãos integrais) e praticar mais atividades físicas, que são fatores associados com saúde e redução de doenças. Esta associação é apoiada por muitos estudos observacionais que, embora não estabeleçam relações causais, sugerem que um círculo virtuoso se estabelece em pessoas mais felizes que adotam hábitos que repercutem positivamente na sua saúde e bem-estar. Neste cenário, hábitos notoriamente nocivos, como tabagismo, são adotados com menos frequência. Além disso, ao ficarem doentes, uma atitude positiva e maior resistência física são fatores que favorecem os melhores desfechos.
A felicidade e a saúde são incompatíveis com a ociosidade
-Aristóteles-
Inicialmente, encontrar e viver mais próximo do seu ikigai pode parecer utópico, mas não é. Não quer dizer que se deva abandonar o emprego e fazer um período sabático nas montanhas do Nepal. Podemos simplesmente incorporar mais atitudes que nos aproximem daqueles aspectos que estão menos contemplados.
Ainda assim, a maior parte de nós não é estimulada a refletir sobre estes valores antes de fazer escolhas que impactam nossas vidas. E se fazemos, nem sempre damos a mesma importância para eles. Em nossas escolhas profissionais, por exemplo, o que realmente gostamos de fazer, que nos traz gratificação e formas de contribuir para a sociedade normalmente, fica menos valorizado do que aspectos como salário, tempo, etc. O potencial de remuneração está incluído na figura acima pois é indiscutivelmente relevante. Ao considerar uma mudança de emprego, por exemplo, será que não vale a pena considerar aquela vaga que remunera menos mas que pode trazer mais gratificação? Se esta oportunidade nos aproximar mais de nossa vocação e missão ela pode ter um impacto muito mais positivo em nossas vidas a médio e longo prazo.
Estudos científicos tem tentado avaliar, por exemplo, o grau de satisfação das pessoas conforme sua renda. Apesar das dificuldades inerentes a este tipo de estudo e variações culturais e sociais, os resultados são interessantes. Embora maior renda pareça estar associada à felicidade, a partir de um nível de salário que garanta conforto não se vê diferenças significativas em relação ao grau de felicidade em comparação a milionários. Além disso, estudos recentes sugerem que o efeito da riqueza pode decorrer de como ela é obtida – herdeiros não parecem ter o benefício que aqueles que construíram a riqueza tem – ou gasta – gastar dinheiro em outras pessoas tem efeitos positivos que gastar consigo mesmo não traz. Além disso, independente da renda, exercer um trabalho com significado pessoal ou doar um pouco do seu tempo para ajudar pessoas da sua comunidade somam mais significativamente do que o saldo da conta bancária.
Outros aspectos em nada perdem para a riqueza em relação a como nos aproximar da alegria de ter razão para viver: conexões sociais e afetivas parecem ser dos ingredientes mais essenciais para a felicidade e ainda estão associados à proteção contra o declínio cognitivo que acompanha o envelhecimento. Ter um círculo de amigos, mesmo que pequeno, com os quais se pode contar, relações afetivas saudáveis com parceiros e família e estar socialmente inserido em uma comunidade de forma ativa tem impacto enorme.
E se parece impossível reconfigurar a rotina dominada pela profissão para incorporar outros aspectos previstos no conceito ikigai, não desista. Estudos sugerem que é possível se aproximar do senso de propósito com a incorporação de atividades menos frequentes, como nos finais de semana de quem trabalha tempo integral. Mesmo dedicando menos tempo, ações que contemplem outros aspectos como paixão, missão e vocação podem trazer mais equilíbrio e satisfação. Você pode testar algumas atividades até achar aquelas que funcionam melhor para você e considerar incluir familiares ou convidar amigos. Atividades comunitárias trazem uma enorme satisfação, pois envolvem o desenvolvimento de novas conexões e sensação de inclusão e pertencimento: existem incontáveis opções de trabalho voluntário e algum deles pode ser tão gratificante que nem pareça trabalho. Ou que tal conferir aquele grupo com o qual compartilha algum interesse que se reune próximo de onde você mora? Ou ainda marcar uma aula experimental de algo que gostaria de desenvolver? Pode ser um jeito de desenvolver um novo hobby e ainda fazer amigos com interesses em comum. E por falar em amigos, cultive os que já tem e faça dos encontros uma rotina!
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